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Profecias segundo a Filosofia Espírita

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Sonia Theodoro da Silva
Temos recebido inúmeras perguntas que chegam até nós através dos nossos canais de comunicação, nas nossas aulas e palestras.
O foco principal dessas perguntas está centralizado nas últimas “profecias” sobre o final dos tempos, preocupação de todos, dadas as circunstâncias que envolvem a política mundial no momento.
Primeiramente, precisamos lembrar que a Filosofia Espírita não faz profecias. A Filosofia Espírita é uma filosofia centralizada no desenvolvimento do indivíduo, onde quer que ele possa estar, na vida corpórea, ou nas dimensões extra-corpóreas que Kardec denomina de erraticidade.
Eu me lembro que profecias que preveêm catástrofes tem sido feitas ao longo de toda a história humana, principalmente nas épocas de transição, quais sejam por exemplo, no século IV d.C durante a queda do Império Romano, na virada do ano 999 para o ano 1000 e mais recentemente, a profecia atribuída à civilização Maia, para o ano de 2012: nesta última ocasião, centenas de interpretações sobre o fim dos tempos praticamente inundaram a internet, com aparências de possibilidades: diziam elas ,“é possível que em 06 de junho de 2012 o eixo da Terra se modifique…”, “possivelmente em 22 de dezembro de 2012 haverá um black-out generalizado, as grandes potências e os poderosos já sabem e preparam seus refúgios subterrâneos em países do hemisfério norte…”, “… não estamos sendo avisados devido ao pânico…” , “tudo faz parte da transição…”, “Jesus voltará durante esses momentos de dor…”, e muitas outras afirmações que seguiram no mesmo diapasão, inúmeros vídeos trazendo debates, ou apenas discursos inflamados, todos almejando representatividade na sociedade, e concordes com as previsões originais, mas que se alteravam conforme as culturas nas quais se inseriam.
Posteriormente, estudiosos da civilização Maia afirmaram que aquele povo estava se referindo à própria destinação e não à humanidade como um todo. E igualmente à mudança de ciclo evolutivo referente à civilização dos povos ameríndios.
Mais recentemente, surgiu mais uma dessas “previsões”, surpreendentemente atribuída ao médium Francisco Cândido Xavier.
Quero lembrar que o querido médium, desencarnado há mais de 10 anos não está entre nós para desmentir essa afirmação a ele atribuída, mas sabemos que Chico, como era carinhosamente chamado pelos espíritas, jamais faria previsões, e muito menos relacionadas ao chamado fim dos tempos ou juízo final, já que a sua missão entre nós era, como ele mesmo dizia, a de ser “médium de livros”.
Além do mais, segundo comprovação de pesquisas realizadas por historiadores e exegetas, o nosso calendário que data de 2017 depois de Cristo, está errado.
Na verdade, o cálculo do calendário cristão que é usado atualmente foi feito pelo monge Dionysius Exiguus, que havia errado em alguns anos. O próprio Papa Emérito Bento XVI, em seu livro “Jesus de Nazaré: narrativas da infância” reforça a tese de estudiosos que afirmam que o nascimento de Jesus teria acontecido entre 4 e 6 anos antes da data conhecida. A maioria dos historiadores concordam que Jesus teria nascido por volta do ano 7 a.C.
O que invalida totalmente a teoria de que 2019 está fadado a ser um ano fatal para a humanidade, já que, historicamente comprovado, o ano de 2019 já passou.
Gostaríamos de lembrar que o Espiritismo jamais endossaria tais afirmações ou pseudo revelações.
Em A Gênese, cap. 1, Caráter da Revelação Espírita, item 8, diz Allan Kardec: “(…) chamamos particularmente a atenção para o cap. 21 de O Evangelho Segundo o Espiritismo: levantar-se-ão falsos Cristos e falsos profetas”.
No mesmo capítulo, item 10: “Só os Espíritos puros recebem a palavra de Deus com a missão de transmiti-la; mas, sabe-se hoje que nem todos os Espíritos são perfeitos e que existem muitos que se apresentam sob falsas aparências, o que levou S. João a dizer: ‘Não acrediteis em todos os Espíritos, vede antes se os Espíritos são de Deus.’ 1ª.Epístola, 4:4).
Pode pois, haver revelações sérias e verdadeiras como as há apócrifas e mentirosas, diz KArdec. O caráter essencial da revelação divina é o da eterna verdade. Toda revelação eivada de erros ou sujeita a modificação não pode emanar de Deus. ”

Em O Livro dos Espíritos, perg. 851, Kardec pergunta aos Espíritos: “Haverá fatalidade nos acontecimentos da vida, conforme ao sentido que se dá a este vocábulo? Quer dizer: todos os acontecimentos são predeterminados? E, neste caso, que vem a ser do livre-arbítrio?
Resposta : A fatalidade existe unicamente pela escolha que o Espírito fez, ao encarnar, desta ou daquela prova para sofrer. Escolhendo-a, instituiu para si uma espécie de destino, que é a consequência mesma da posição em que vem a achar-se colocado. Falo das provas físicas, pois, pelo que toca às provas morais e às tentações, o Espírito, conservando o livre-arbítrio quanto ao bem e ao mal, é sempre senhor de ceder ou de resistir.
E continuam os Espíritos Superiores:
Ao vê-lo fraquejar, um bom Espírito pode vir-lhe em auxílio, mas não pode influir sobre ele de maneira a dominar-lhe a vontade. Um Espírito mau, isto é, inferior, mostrando-lhe, exagerando aos seus olhos um perigo físico, o poderá abalar e amedrontar. Nem por isso, entretanto, a vontade do Espírito encarnado deixa de se conservar livre de quaisquer peias.”
Os Espíritos prosseguem elucidando ao mestre de Lyon que nada está escrito, ou seja, nenhum evento está fadado a ocorrer que não esteja na ordem natural das coisas, nas escolhas dos Espíritos encarnados e desencarnados conforme as suas necessidades evolutivas e nas determinações das Leis Divinas.

Ainda em A Gênese, cap. 18, São Chegados os Tempos, item 1, Kardec afirma que o sentido místico e o apego ao sobrenatural juntamente com a incredulidade generalizada tomaria espaço em nosso tempo. Nos demais itens comenta da harmonia existente na criação, que para tudo há uma razão de ser na marcha do conjunto pois está submetido à Lei de Progresso, que funciona em perfeita ordem, e que estaríamos sujeitos ao crescimento moral, consequente da madureza da Humanidade, ela própria se regenerando à medida em que perpassa pela luta das ideias.

Sabemos que a nossa cultura religiosa tem suas origens na ambiência mítica e mística oriental que o pensamento racional tentou minimizar e que finalmente a Filosofia Espírita conseguiu trazer à reflexão, num perene convite à análise desprovida de pré-conceituações que poderiam mascarar a realidade, infringindo-lhe expectativas dissonantes e em total desacordo com o progresso já realizado.
As religiões, muitas das quais responsáveis pelo ateísmo avassalador que toma hoje o pensamento filosófico do ocidente, pois induziram o homem à negação de sua natureza espiritual, pior, à negação da existência de um Ser Supremo, suprema inteligência e causa primária de todas as coisas, ou tornando-o apenas imanente na Natureza, caem hoje em fragmentos; escravizam seus fiéis ao passado histórico apelando à palavra contida nos escritos sagrados, criam obstáculos ao raciocínio na afirmativa de que é Deus quem supervisiona os cofres dos templos, estimulam a rivalidade religiosa, ceifam vidas num holocausto interminável e odioso em pretensas defesas de seus postulados ditos “eternos”.

A essência das religiões, divulgada e vivida por seus representantes iniciais, preconiza a existência de uma Divindade Suprema, o amor e o respeito que lhe devemos bem como ao nosso semelhante. Ao longo do tempo, tudo isto foi modificado. Pairamos no limbo das incertezas, da descrença, do descrédito. Talvez aí esteja a causa da dificuldade que o Espiritismo enfrenta para fixar-se, como Conhecimento, tanto no Brasil como em outros países.
Mesmo na França, seu berço, onde os pioneiros trabalharam com afinco e dedicação à causa dos Espíritos superiores. Devido a isto, os movimentos de auto-ajuda proliferam, trazendo “receitas rápidas para a felicidade”, num planeta que precisa de nossa atenção, respeito e solidariedade.

O Espiritismo tem, com sua Filosofia conducente à posturas mentais e comportamentais coerentes à verdadeira natureza do ser humano, ético e moral (Vede Jesus, perg. 625, LE) toda a condição de abrir as fronteiras para um livre-pensar desataviado de misticismos e mitologias ultrapassadas.
Basta que não nos percamos em debates inócuos, pessoais, e vazios, quando não míticos, por ainda habitarem o nosso psiquismo carente de renovação.

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