Sir Arthur Ignatius Conan Doyle
Reino Unido, 1859
Foi um ano emocionante para os britânicos. A Revolução Industrial, cria local, arriscava os primeiros passos em solo estrangeiro, promovendo mudanças sociais e econômicas ao redor do mundo. Ao mesmo tempo, Charles Dickens publicava o best-seller “Um Conto de Duas Cidades”, enquanto os londrinos aguardavam ansiosos pelas primeiras badaladas de seu recém-instalado “Grande Relógio”, mais conhecido como “Big Ben”. À surdina, sem querer estragar a festa de qualquer conterrâneo, outro Charles, dessa vez o Darwin, roía as unhas diante da pane total do sistema telegráfico na Grã-Bretanha (e América do Norte), causada pela maior tempestade solar de todos os tempos: conseguiria Charles Darwin driblar o “Evento de Carrington”, também chamado de “Tormenta Solar de 1859”, e apresentar sua “Teoria da Evolução” antes do extermínio completo da raça humana? Ah, sim, já em 1859 houve quem associasse uma tempestade solar com o fim do mundo.
Então Dickens arrasou, o sol se acalmou, o Big Ben badalou, Darwin causou… E o mundo não acabou. Ainda bem, pois foi em 1859, lá mesmo, no Reino Unido, que ocorreu um fato especialmente importante para nós, os espíritas: em Edimburgo, capital escocesa, nascia Arthur Conan Doyle.
Edimburgo, capital da Escócia.
Imagem: Conselho Nacional de Turismo – Escócia (VisitScotland – web site). Fotógrafo: Kenny Lam.
Edimburgo, Escócia
Arthur Ignatius Conan Doyle nasceu em 22 de maio de 1859, na histórica e belíssima capital escocesa, Edimburgo – declarada “Patrimônio da Humanidade” pela UNESCO, em 1995.
Primogênito de Mary Foley (nome de solteira) e Charles Altamont Doyle, nobre casal de ascendência irlandesa e forte tradição católica, Conan Doyle cresceu entre o requinte intelectual da mãe e os tropeços do pai no abuso do álcool.
Aos nove anos de idade, sob a tutela financeira de um tio, Arthur foi enviado à Inglaterra (aos prantos) para dar início à sua vida acadêmica com o curso preparatório do colégio jesuíta de Hodder Place, Stonyhurst – Condado de Lancashire. Dois anos depois, o jovem Doyle foi matriculado no Colégio Stonyhurst, de onde saiu contrário ao cristianismo e decididamente agnóstico.
O Jovem Arthur
Estudar em um colégio britânico do século 19 não era tarefa fácil. Além da prática do “bullying”, tormento amplamente comum já naquela época, castigos físicos podiam ser aplicados aos alunos a torto e a direito por professores, instrutores, inspetores, diretores, jesuítas… E Conan Doyle não escapou incólume de uma instituição assim.
Firme, decidiu não se deixar abater pela autopiedade ou sentimentos de vingança, encontrando alívio e refazimento no intercâmbio de mensagens com a mãe e nas atividades esportivas.
Arthur Conan Doyle, aos 14 anos de idade, em seu uniforme de críquete.
Imagem: The Arthur Conan Doyle Collection Lancelyn Green Bequest (web site).
Críquete. Taco? Não, críquete. Este era o esporte predileto de Arthur Doyle, como era chamado na mocidade. Doyle era o “batsman”. Isso mesmo, batsman – o homem do taco, o rebatedor, o que defendia o “wicket”, ou, a “casinha”.
Um dia, já adulto, Arthur estava jogando quando, de repente, foi surpreendido por uma bola de efeito que o deixou atordoado dentro de campo.
Arthur Conan Doyle perde a rebatida, a casinha e quebra o taco em uma bola caprichada de A. P. Lucas.
Ilustração de Arthur Twidle, para o artigo da revista The Strand Magazine.
Em artigo publicado na revista britânica “The Strand Magazine”, Doyle tentou explicar o ocorrido: “Como quem lança uma malha, A. P. Lucas fez a bola subir a uns nove metros de altura, com destino certo ao topo do meu wicket. O que faria um bom rebatedor? Provavelmente viraria a parte plana do taco para cima e buscaria evitar qualquer falha para ter alguma chance. Na minha tentativa de interromper a trajetória da bola, acabei destruindo a casinha e quebrando meu próprio taco. Em meio a todo este caos, a bola simplesmente atingiu seu objetivo. Passei o dia inteiro imaginando o que poderia ter feito e até hoje ainda quero saber.”
Da adolescência até a fase adulta, Arthur Doyle também praticou futebol e foi goleiro de um time amador, o Portsmouth Association Club; jogava boliche ocasionalmente, tendo participado de uma liga de primeira classe; por fim, era considerado um grande golfista, chegando a ser eleito capitão do Clube de Golfe de Crowborough Beacon.
Ah, sim… Nas horas vagas, Doyle ainda esquiava. Na imagem acima, nós o vemos em Davos, Suíça. Segundo o jornal inglês “The Telegraph”, os suíços têm muito a agradecer a Conan Doyle pelo sucesso do esqui naquele país. Foi Doyle quem importou os primeiros esquis e incentivou também os primeiros tombos por ali, além de profetizar a presença maciça dos ingleses em temporadas futuras. Fonte/imagem: The Telegraph (web site).
Doutor Doyle
Bem, de acordo com a tradição da família, Conan Doyle deveria estudar e seguir a carreira artística logo após o término do colegial. No entanto, um jovem que sai agnóstico de um colégio jesuíta não é exatamente um seguidor de tradições. Arthur escolheu ser médico.
Doyle estudou medicina na Universidade de Edimburgo e, de fato, passou a exercer a profissão assim que concluiu o curso. No início, chegou a trabalhar em troca de casa e comida nos subúrbios de Sheffield (Inglaterra), onde experimentou as primeiras decepções em âmbito profissional. Certa vez, aturdido com o comportamento de sua clientela, Arthur escreveu: “O povo de Sheffield prefere ser envenenado por um homem barbado do que salvo por outro sem barba.” (Arthur Conan Doyle: Beyond Baker Street – Janet B. Pascal – Oxford Portraits Series). Ainda como recém-formado, Doyle trabalhou como médico-assistente e médico do navio Mayumba – embarcação movida à vela e a vapor, destinada a viagens internacionais de passageiros e cargas.
Diferentemente de quem escolhe medicina por vocação, a decisão de Conan Doyle foi prática. Quando tinha 17 anos, seu pai foi internado para tratamento do alcoolismo. Isso afetou muito a economia da família e, para Arthur, pareceu óbvia a escolha de uma carreira que proporcionasse segurança e até mesmo certo status.
Imagem: O jovem doutor Arthur Ignatius Conan Doyle – Sherlock Holmes Online Org. (web site).
Como conclusão de seus estudos médicos, Conan Doyle publicou a tese “An Essay Upon the Vasomotor Changes in Tabes Dorsalis”, discorrendo a sífilis da medula espinhal e suas implicações no mecanismo vasomotor.
Arthur, Marido e Pai
A primeira esposa de Arthur foi Louise Hawkins. Com ela teve dois filhos: Mary Louise e Arthur Alleyne Kingsley. Quando Louise, ou Touie, como era chamada, foi diagnosticada com tuberculose, Conan Doyle mudou-se com a família para Davos, Suíça. À época, acreditava-se que as condições climáticas do local eram favoráveis à recuperação dos portadores dessa doença. Apesar de todos os esforços, Touie perdeu a batalha contra a tuberculose.
Imagem: Touie, Mary e Kingsley.
Conan Doyle Estate Ltd. (web site).
Excelente amazona e também cantora, Jean Leckie foi o segundo amor de Conan Doyle. Tiveram um casamento feliz e três filhos: Denis Percy Stewart, Adrian Malcolm e Jean Lena Annette.
Imagem: Jean Leckie. Conan Doyle Estate Ltd. (web site).
Autor Mundialmente Querido
A não ser pelo fato de ter nascido em 1859, ano agitadíssimo para os britânicos, conforme vimos no início deste artigo, de ter sofrido bullying em um colégio jesuíta, de onde saiu agnóstico, e de praticar o “taco de raiz”, ou críquete, não temos, até aqui, em Conan Doyle, um homem precisamente extraordinário.
Mas, em âmbito global, quando lembramos que ele é o “pai” de Sherlock Holmes, aí tudo começa a ficar diferente.
“Aconteceu em uma manhã cruelmente fria, cheia de neve, no final do inverno de 1897.
Fui acordado por um vigoroso chacoalhão no ombro. Era Holmes. Uma vela na mão iluminava a ansiedade em seu rosto inclinado sobre mim, enquanto dizia-me sem demora que algo estava errado. ‘Venha, Watson, venha!’ – ele gritou. ‘O jogo começou. Nem uma palavra! Vista suas roupas e venha!’”
Texto: Revista The Strand Magazine – The Adventure of Abbey Grange. Imagem: Art in the Blood (web site).
Conan Doyle aos seis anos de idade. Desenho de Richard Doyle.
Imagem: Conan Doyle Estate Ltd. (web site).
O pequeno Arthur, imortalizado logo aos seis anos de idade pelo tio coruja, Richard “Dickie” Doyle, nasceu em uma família de artistas – os Doyle eram ativos e muito respeitados no mundo das artes.
Sua mãe era uma mulher educada, culta, que adorava ler. Para Arthur, Mary Doyle escolhia contar histórias incomuns; narrativas insólitas que realmente pudessem estimular e expandir a imaginação e a criatividade de seu menininho. Deu certo!
Os primeiros textos de Conan Doyle como escritor foram publicados antes que ele completasse 20 anos, em 1879, no Chambers’s Edinburgh Journal.
Três anos mais tarde, depois de encerrar uma complicada parceria com o colega médico George Budd, Arthur foi para Southsea – bairro de Portsmouth, no condado de Hampshire, Inglaterra –, a fim de iniciar a prática médica de forma independente.
Fachada do prédio onde Conan Doyle abriu seu consultório médico, em Southsea.
Imagem: Portsmouth Now & Then (web site).
Quando chegou a Southsea, Arthur contava com dez libras esterlinas no bolso. E, ao menos de início, a escassez de clientes obviamente não ajudou a melhorar a situação.
Mas o condado de Hampshire contava com uma vida social animada, garantindo ao jovem doutor a chance de desfrutar inúmeras atividades interessantes, entre elas a escrita criativa e, claro, a prática esportiva.
“O Cão dos Baskervilles” (“The Hound of the Baskervilles”), de A. C. Doyle.
Segundo o jornal Le Monde, um dos 100 melhores livros de todos os tempos. Ilustração de Sidney Paget.
Quando não estava pegando no gol para o Portsmouth Football Club, Conan Doyle escrevia histórias. Sua primeira obra de sucesso foi “Um Estudo em Vermelho” (“A Study in Scarlet”), publicada na revista Beeton’s Christmas Annual, em 1887. A versão em formato de livro foi produzida em 1888.
Foi em “Um Estudo em Vermelho”, que Arthur apresentou ao mundo o célebre detetive inglês, Sherlock Holmes, e também seu fiel companheiro de aventuras, o Dr. Watson. Nos anos seguintes, os dois personagens vivenciaram juntos mais 59 casos policiais.
Mais que conhecido, depois de Holmes, Doyle tornou-se mundialmente querido.
Sir Arthur na África do Sul. Seis meses como cirurgião voluntário na guerra conhecida como “The Boer War”/”The South African War” – “Guerra dos Bôeres”/”Guerra Sul-africana”. O título “sir” foi conferido a Conan Doyle pelo rei Eduardo VII. Alguns autores atribuem o título à participação de Doyle na guerra, outros dizem que foi pelo texto “A Guerra na África do Sul: Suas Causas e Condutas” – por justificar as ações britânicas na guerra; já o povo, bem, o povo acha que Doyle deve o título de cavaleiro a Sherlock Holmes. Outra curiosidade: Doyle pensou em rejeitar o título. Mas, quando ouviu de sua mãe o bom e velho “em casa a gente conversa”, sorriu e posou para a foto. Imagem: Conan Doyle Estate Ltd. (web site).
Entre Fadas e Espíritos
As Histórias de Mary Doyle
Para os espíritas, e a exemplo de qualquer um de nós, Conan Doyle já veio para este mundo com um “contrato assinado”, ou seja, ele seria Conan Doyle e, mais cedo ou mais tarde, seria também um dos precursores do Espiritismo.
Se ele cumpriria o tal contrato, a exemplo de qualquer um de nós, são outros quinhentos.
O fato é que, em regras gerais, Doyle foi ensinado a ter uma mente aberta, a não ser bitolado, a não manter uma “velha opinião formada sobre tudo” [*]. E esse treino começou quando ele ainda era bem pequenininho.
[*] Música “Metamorfose Ambulante”, de Raul Seixas.
Todo o entusiasmo de Mary Doyle ao contar as mais inusitadas fábulas para o filho não podia ter apenas o objetivo de fazê-lo ninar. Conan Doyle foi incentivado a olhar (e ver) além.
Conan Doyle a respeito da influência materna em sua vida: “Desde os primeiros anos, desde quando sou capaz
de me lembrar, as histórias contadas por minha mãe são tão vivas que se confundem com os fatos da minha vida.”. Imagem: Mary Doyle. Conan Doyle Estate Ltd. (web site).
Sabemos que a estratégia de Mary Doyle funcionou. Arthur Conan Doyle é globalmente conhecido como escritor criativo, empolgante e brilhante quando o assunto é ficção policial.
Algo globalmente desconhecido foi o interesse de Doyle por outro tipo de mistério. E, devido a essa curiosidade, enquanto gerenciava as carreiras de médico e escritor, Arthur também investigava e produzia textos a respeito do universo das fadas… e outros espíritos.
Doyle chegou mesmo a publicar o livro “The Coming of the Fairies” (“A Vinda das Fadas” – tradução livre), em que defendeu a veracidade da alegação de duas crianças que diziam ter fotografado a si mesmas brincando com fadas e duendes.
Imagem: Frances Griffiths e “amigos”. Discovering A. C. Doyle – Sherlock Holmes – Stanford University (web site).
O livro “The Coming of the Fairies” é um exemplo de como foi longo e, no mínimo, curioso o caminho de Doyle até o Espiritismo: já em idade bem avançada, e após o desencarne de Conan Doyle, as duas “garotinhas” decidiram contar a verdade e admitiram ter usado papel recortado para produzir as fadinhas e os duendes.
Arthur Doyle e Kardec foram contemporâneos, mas antes de chegar ao codificador da Doutrina Espírita, foram muitas as experiências negativas que Conan Doyle teve com charlatães e fraudes.
Entre Médiuns e Ilusionistas
A certa altura de sua vida, houve uma forte amizade entre Arthur Conan Doyle e o ilusionista Harry Houdini.
Podemos imaginar que se tratou de um relacionamento interessantíssimo: dois grandes amigos, mundialmente famosos, defendendo ideias contrárias.
Naquela época, Doyle, que havia entrado em estado depressivo após a perda de entes queridos, entre os quais seu filho Kingsley, sustentava a ideia de vida após a morte, portanto a existência de um mundo imaterial, a possibilidade de comunicação entre os vivos e os mortos e, obviamente, a realidade da mediunidade.
Houdini ria de todas essas alegações.
Enquanto Doyle andava pregando a legitimidade dos “poderes mediúnicos” de Harry Houdini, o próprio Houdini se encarregava de tentar provar ao ingênuo amigo espiritualista que ele, Arthur Conan Doyle, estava redondamente enganado.
Essa é uma longa história.
Imagem: Família Doyle e Harry Houdini em Atlantic City. The Haunted Museum (web site).
Bem, Conan Doyle e Harry Houdini, depois de muito debaterem tais assuntos, acabaram magoados um com o outro, especialmente depois de um suposto encontro mediúnico entre Jean Doyle e a falecida mãe de Houdini.
Mas, essa é outra e longa história.
E por falar em coisas do além, vejam só quem dá o ar da graça: Edgar Alan Poe, nosso prezado Eddy.
Ninguém mais, ninguém menos!
O autor americano foi uma das grandes influências literárias de Sir Arthur.
Imagem: Edgar A. Poe. Museu Poe, Richmond – Virginia-EUA. Artista: Friedrich Bruckmann.
Doyle e o Espiritismo
Primeiros Passos: As Famigeradas Mesas Girantes
Foi o General Drayson, professor da Academia Naval de Greenwich e também paciente de Conan Doyle, quem o convidou para sua primeira experiência com os chamados fenômenos das mesas girantes.
Imagem: Sátira de manifestações físicas durante uma “sessão espírita”.
Lock Haven University (web site).
O evento foi um ”arraso”. Doyle ficou chocado (talvez apavorado). Perdeu toda a classe e, abalado, pôs em dúvida a honestidade do sinaleiro da estrada de ferro – o pobre homem era um dos médiuns responsáveis pelos efeitos físicos daquela noite – e subestimou a inteligência da audiência ali presente.
Mas ao deixar a reunião, no entanto, sem que percebesse, seu interesse já estava devidamente fisgado!
Pouco tempo depois deste episódio, e durante os próximos 30 anos, Conan Doyle dedicou-se ao estudo e à divulgação das questões dos Espíritos.
“Não cometerei a estupidez de caracterizar como fraude tudo aquilo
que não posso explicar.” – Carl Gustav Jung
Pois bem, Doyle abraçou a causa e começou a pesquisar. Conheceu pessoas, visitou lugares, filiou-se a sociedades com interesses afins.
E teve lá suas experiências. Em certa ocasião, durante uma palestra do professor Milo de Meyer sobre mesmerismo, Doyle foi convidado a participar de um experimento: para ilustrar os conceitos de Meyer, Sir Arthur seria hipnotizado.
O professor bem que tentou. E falhou.
Sir Arthur, um caça-fantasmas?
Conan Doyle (também o cientista William Crookes – outro precursor do Espiritismo –, o Primeiro Ministro Arthur Balfour, o filósofo William James e o naturalista Alfred Russell Wallace) foi membro da Sociedade Britânica de Pesquisas Psíquicas.
Imagem: Sir Arthur. ACD Friends of the Arthur Conan Doyle Collection.
Toronto Public Library (web site).
Certa vez, um coronel de sobrenome “Elmore”, farto de ser paciente com uma barulheira estranha em sua casa, dirigiu-se até a Sociedade Britânica de Pesquisas Psíquicas para pedir ajuda. Havia algum tempo, Elmore, a esposa, a filha e o cachorro – este último terminantemente contrário a frequentar determinados cômodos da residência – eram atormentados por “sons de correntes sendo arrastadas pelo chão de madeira, fazendo parecer que uma alma perturbada”, e certamente claudicante, vagava por entre os membros da família.
Conan Doyle, o Dr. Scott Sydney e Frank Podmore foram recrutados para investigar a denúncia de assombração.
Depois de algumas noites sem dormir, cansados de vagar eles próprios pela casa sem presenciar ou constatar nada extraordinário, os três homens retornaram a seu QG espiritualista, classificando a missão como “inconclusiva”.
Imagem: Arthur Conan Doyle nas Montanhas Rochosas (lado canadense).
Jean Doyle escreveu no verso: “Meu amado nas Montanhas Rochosas 1914”. Conan Doyle Estate Ltd. (web site).
Arthur Conan Doyle, Precursor do Espiritismo
Foi longo o caminho e intenso o desafio. A mente aberta e sempre alerta de Arthur Conan Doyle transformou essa grande e gratificante aventura pessoal em bem comum.
Doyle foi um homem interessantíssimo. Agnóstico, esportista, médico, escritor, marido, pai, voluntário de guerra, político, altruísta, e, por fim, espírita. Tudo isso e muito mais em um só homem.
Imagens: George Edalji (esquerda) e Oscar Slater. Acusados e condenados por crimes que não cometeram.
Ambos foram inocentados graças ao altruísmo e à perspicácia de Arthur Conan Doyle.
The Haunted Museum e Westminster Online Org. (web sites).
Quando finalmente declarou-se partidário e atuante da Causa Espírita, publicando sua conversão na revista “The Light”, Conan Doyle deixou a comunidade espírita muito feliz. Quanto aos demais, abriu-lhes caminho para a crítica ferrenha.
Para nós, espíritas, nada pode ser tão natural quanto alguém converter-se ao Espiritismo. Por mais absurdo e exagerado que possa parecer, para Arthur Conan Doyle foi como emitir seu próprio atestado de loucura.
Como? Como o criador de Sherlock Holmes (só para lembrar, “Holmes” é alguém que, na verdade, sequer existe), um gênio do raciocínio lógico, pode declarar-se adepto de uma doutrina de espíritos?
A indignação dos críticos de Doyle foi quase tão grande quanto aquela demonstrada pelos fãs de Holmes, diante da “morte” do detetive inglês.
Nada que pudesse abalar a convicção de Conan Doyle, no entanto. A despeito das fraudes e charlatães e difamadores, ele estava convicto de ter encontrado a verdade.
E é muito mais fácil, simples, apontar Doyle como um indivíduo ingênuo que se deixava enganar até por crianças e suas fadas e duendes de papel recortado, em vez de verificar a coragem de alguém firme em seu propósito de chegar à verdade.
Conan Doyle superou as malícias, as mentes imaturas, superou a si mesmo vencendo a dor de um pai que perde um filho e se recusa a aceitar o fim desse amor: Kingsley está vivo. O mundo precisa saber: vossos, nossos entes queridos… estão todos vivos!
“O Espiritismo é o advento mais importante da história da humanidade
desde a vinda do Cristo.” – Conan Doyle.
Entusiasta e divulgador da Doutrina, Conan Doyle foi Presidente Honorário da International Spiritualist Federation (1925-1930), Presidente da Aliança Espírita de Londres e Presidente do Colégio Britânico de Ciência Espírita.
Do espiritualismo ao Espiritismo, Doyle tornou-se convicto da veracidade e importância da palavra dos Espíritos e documentou seu aprendizado publicando livros como A Nova Revelação, a Mensagem Vital, A Historia do Espiritismo e O Caso das Fotografias de Espíritos.
Em suas viagens ao redor do mundo, muitas vezes acompanhado dos filhos, Sir Arthur reconhecia que boa parte de seu público marcava presença para ver o criador de Sherlock Holmes, não um dos porta-vozes dos Espíritos. Ótimo! Isso o empolgava ainda mais.
Sua própria fé serviu de exemplo ao mundo e Conan Doyle demonstrou, com muita propriedade, que saber da vida após a morte do corpo físico e da possibilidade de comunicação com este outro mundo é, antes de tudo, absolutamente reconfortante.
Brilhante, meu caro Arthur!
Pesquisadora e redatora: Analy Ribeiro