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Caminhos para a Paz – Parte II

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Sonia Theodoro da Silva 

A multiface de aspectos existentes na Vida, mostra ao homem, a necessidade de introjetar-se, indo em busca da maior jornada de todos os tempos: a da própria autodescoberta.

Campanhas como a do passado (passado?) Manifesto 2000 preconizam a necessidade de respeitar a Vida, rejeitar a violência, ser generoso, ouvir para compreender, preservar o planeta e redescobrir a solidariedade. Muito mais que um convite à Paz, é um apelo contundente à transformação de nós mesmos.

No artigo anterior, falamos acêrca dos princípios éticos da Arte, em sua manifestação intrínseca, a reproduzir o pensamento humano em forma de imagens pictográficas, em suas mais diversas formas de expressão, seja voltado para expressões espirituais elevadas, ou como resposta aos conflitos da alma humana. No Simpósio Internacional A Arte encontra a Ciência e a Espiritualidade numa Economia em Mutação, os mais abrangentes temas foram discutidos, sob a ótica interpretativa de eminentes representantes das três formas de visão de mundo. Aspectos importantes da performance da globalização, diferente do conceito de consciência global, foram destacados: o segundo harmoniza homem e Natureza, ao passo que o primeiro, que visa a exploração de recursos naturais objetivando o desenvolvimento economico, nem sempre levando-se em conta o respeito à flora, fauna e aos recursos humanos compatíveis. Um exemplo disso, é a alteração que vem ocorrendo nas estruturas celulares de nossos próprios corpos: à temperatura utilizada para a cremação, em torno de 125º há quarenta anos, contrapõe-se à de hoje, onde são necessários 715º, devido à complexidade química existente no organismo humano.

O homem continua desconectado do seu ambiente natural – afogou-se em carpetes, smartphones, automóveis, computadores, utensílios descartáveis, toda uma parafernália eletronica que, sem dúvida nenhuma lhe traz conforto material, por outro lado, faculta a prevalência de sentimentos egoísticos e individualistas, e, o que é pior, acentua-lhe a imensa solidão e vazio interior.

Tais desconcertos do Espírito se manifestam na somatização de problemas, nas distonias emocionais e mentais, nos rompantes de cólera e depressão, ansiedade e euforia, a agirem como elementos constritores do desenvolvimento espiritual da criatura, que se arvora em conquistadora de seu espaço, malbaratando as bênçãos que lhe chegam do Alto, através do perfume natural de uma flor, da luminosidade de um recanto natural, do canto de um pássaro, da graça natural de um animal de estimação, do sorriso encantador de uma criança, da espontaneidade afetiva de um amigo, da palavra educadora de um “inimigo”.

Essa multiface de aspectos existentes na Vida, mostra ao homem, a necessidade de introjetar-se, indo em busca da maior jornada de todos os tempos: a da própria auto-descoberta. Ainda no início do século, mais precisamente na festa de abertura dos Jogos Olímpicos de 2000, em Sidney, Australia, a tocha olímpica foi levada por uma ex-atleta, hoje portadora de deficiência física. Grande imagem, a lembrar aos milhares de jovens do mundo inteiro, que a beleza e o vigor físicos são transitórios. Que importa cuidar também do vigor moral e espiritual, com o mesmo empenho com que se cuida dos corpos fortes e juvenis. Em 2012, os Jogos Olímpicos admitiram portadores de deficiências físicas em seus quadros de atletas.

Não obstante, e inexoravelmente, a economia mundial prossegue o seu trabalho delituoso, de crescimento desordenado e incompatível com os anseios da verdadeira natureza humana: o Bem e o Belo.

Temos que otimizar, e não maximizar, disse Raimon Panikkar, líder espiritual. Nossa civilização tem perdido o sentido do ótimo e procura o máximo, porque é guiada pelo princípio da primazia da propriedade, da posse. O progresso material nos encanta e atrai – no entanto, o custo alto que estamos pagando, jamais trará de volta as manhãs claras e a brisa amena, o canto natural das aves, a água límpida e o ar puro.

Dicotomia – esta a palavra subjacente em tudo e em todos; distante da dualidade filosófica, que caracteriza a natureza universal, irá, pelo visto, prosseguir por algum tempo nas relações homem-Natureza.

O próprio paradigma científico, baseado em Newton (concepção da ciência mecanicista) e Descartes (preceito de evidência), deslocado para toda uma forma de pensar o mundo, outrora necessário para a evolução da Ciência, hoje obstacula a visão do homem como Ser integral. As tentativas para explicar a nossa existência e a de todos os organismos vivos como se nada mais se tratassem a não ser de aglomerados atômicos casualmente formados, levou a um processo de desvalorização moral e de uma supervalorização mercantil, egoísta e hedonista da vida, linearizando a própria existência como uma coisa fútil, acidental e sem sentido.

É Rupert Sheldrake quem afirma: cada um de nós, ao se defrontar com o mistério da nossa existência, tem de tentar descobrir algum meio de desvendar o seu sentido. Tão logo nos permitimos pensar no mundo como vivo, reconhecemos que uma parte de nós sempre soube disso. Podemos começar a religar nossa vida mental com nossas próprias experiências intuitivas diretas da natureza. Podemos começar a desenvolver uma compreensão mais rica da natureza humana, moldada pela tradição e pela memória coletiva, unida pela Terra e pelos céus, relacionada com todas as forma de vida, e conscientemente sujeita à força criativa manifesta em toda a evolução. Nós renascemos para a vida no mundo. É uma visão de um cientista atual, ligada a de milhares de outros conceitos de estudiosos anônimos, que vasculham o sentido da Vida, com seus olhos perscrutadores e atentos à necessidade do retorno ao Humanismo; sim, aquele mesmo Humanismo apregoado por Kardec, visualisado por Comenius e Pestalozzi, que hoje está latente na alma humana, ansiando por libertar-se das injunções precárias de um materialismo decadente e amorfo, que, em seus estertores, arrasta os incautos e os iludidos. Quando Jesus ensinou aos fariseus a lição das mãos não lavadas, estava dirigindo seu foco à Humanidade materialista, obstinadamente equivocada em seus anseios eletivos: este povo honra-me com os lábios, mas seu coração está longe de mim.(…) Em verdade vos digo que, todo aquele que não receber o Reino de Deus como uma criança, não entrará nele.

Campanhas como a do Manifesto 2000, preconizaram a necessidade de respeitar a Vida, rejeitar a violência, ser generoso, ouvir para compreender, preservar o planeta e redescobrir a solidariedade. Muito mais que um convite à Paz, ainda é um apelo contundente à transformação de nós mesmos. Transformar o micro para alcançarmos o macro. Desenvolver valores intrínsecos para plasmarmos um planeta mais equilibrado.

Os Espíritos Superiores nos revelam: os espíritas já não mais são os trabalhadores da última hora, mas os da hora primeira. Aqueles que, como minoria criativa, segundo Toynbee, trabalham modestamente para o fortalecimento dos alicerces do mundo de regeneração, como milhares de outras minorias amantes de valores e virtudes, da Vida e da Paz.

É Joanna de Ângelis quem nos elucida: existem, entretanto, sendas luminosas, que estão abertas a todos quantos se encontrem dispostos a fazer a reconciliação com a consciência, ao reequilíbrio, ao avanço sem culpa, à preservação dos valores éticos, à conquista da paz. Para que as mesmas sejam percorridas, basta que a reflexão e a prece ressumem dos sentimentos amortecidos e facultem a comunhão com as lições que fruem do pensamento e da vida de Jesus, de incomparável atualidade, portadoras de recursos terapêuticos capazes de renovar o mundo íntimo de cada ser e apresentar-lhe as respostas compatíveis com as necessidades impostas pelas circunstâncias.

Bibliografia: O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. VIII; Art meets Science and Spirituality in a changing Economy – Intl. Symposium; The Rebirth of Nature-The Greening of Science and God (Rupert Sheldrake); Sendas Luminosas (Joanna de Ângelis/Divaldo P.Franco).

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