Sonia Theodoro da Silva
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Esta foi uma pergunta que ouvi recentemente: preservar, para quê? Algumas perguntas cujas respostas poderiam aparentemente parecer óbvias, realmente não o são. E refleti na melhor maneira de tentar não justificar, mas esclarecer, de forma a abranger um número maior de pessoas, principalmente no Brasil, onde a preservação, principalmente de nossa memória histórica, sempre foi delegada a grupos restritos, geralmente ligados aos poderes governamentais ou acadêmicos. Quase sempre, quando nos referimos à preservação em nosso país, as pessoas imaginam-se em meio a livros, documentos ou quaisquer bens móveis ou imóveis empoeirados pelo tempo, etc. – o que pode realmente ocorrer, pela falta de cuidados.
Ou então, em nosso meio espírita, a pergunta-resposta surge: Para quê preservar? A Doutrina não é evolucionista?
Vamos por etapas. Se buscarmos observar os monumentos, por exemplo, em nossa cidade de São Paulo, veremos que os cuidados de preservação e conservação são realizados por um órgão específico, o CONDEPHAAT, que, com grande, imensa dificuldade, mantém nossos edifícios e monumentos dos ataques do tempo, da poluição e do vandalismo. Em verdade, a maior parte de nossa população mal conhece tal trabalho, sequer que existe um organismo preservacionista de nossos bens culturais. Viajando no tempo, eu diria que graças ao bom Deus (e às almas de alguns lúcidos paulistas), tivemos alguns poucos edifícios conservados na Av. Paulista, por exemplo, tida como nosso cartão-postal (veja-se a Casa das Rosas). Foi com grande alegria que vimos o surgimento gradativo de ONGs e Associações de patronato com o intuito de preservar esses mesmos bens – veja-se o Teatro Municipal de São Paulo, o recente restauro da Estação da Luz, o teatro São Pedro, a Sala São Paulo/OSESP, etc.
Cremos que a dificuldade está no desconhecimento e até na educação focados para o tema. Nosso povo aprecia a qualidade e tem bom-gosto, prova disto é a lotação esgotada de concertos de música clássica, festivais como o de Campos de Jordão, ou apresentação de orquestras, grupos de câmara, de música autêntica brasileira em teatros fechados ou ao ar-livre, as exposições culturais, como a dos bens culturais da China, do Egito, de pintores como Picasso, Renoir, Matisse, ou as exposições fixas no MASP, Pinacoteca, MAM, Museu de Arte Sacra, só para mencionar São Paulo.
Com referência à ARTE, ultimamente parece que houve uma perda estrondosa de qualidade nas exposições, com exibição de pura pornografia, e o que é pior, liberando-se o acesso a crianças.
Trata-se aqui, não de “liberdade de expressão”, como querem alguns “artistas”, mas de exibição de manifesta falta de respeito à vida, à educação de crianças e jovens, atacados brutalmente com essas exibições rasteiras, e ainda de ausência de critério e de valores do espírito.
Nada justifica essa precariedade de criatividade, tudo é explícito, menos a educação e respeito ao direito do outro, do próximo.
O bom espírita se opõe frontalmente à essas pseudo-artes que nada exprimem, a não ser o profundo desequilíbrio espiritual e mental de seus autores.
Continuando o nosso tema, a Doutrina é evolucionista? Certamente que sim, preservados os seus princípios, pois o Ser tece a sua jornada na linha da Existência, ao longo dos milênios, direto para o seu destino – ser Luz !
No entanto, evoluir não significa esquecer os fundamentos que ele próprio estabeleceu como base de ascensão à sua Espiritualidade. E juntamente com o Ser, estão suas conquistas e realizações, os bens de Cultura que plasmou ao longo de sua jornada e que compõem o seu acervo espiritual. Conservar significa Respeitar – Preservar significa Cuidar – Atualizar pressupõe Referenciar – Resguardar pressupõe Vigiar, Poupar, Abrigar. Nada a ver com Reter, Segurar, Tomar.
Um exemplo cabal de desrespeito à Humanidade e à sua Evolução social, religiosa, antropológica, psicológica, espiritual, enfim, foi – e continua sendo – a paulatina destruição de seu berço cultural em terras do Oriente Médio. Outro exemplo, a proximidade absurda do trânsito caótico com suas consequências, do Cairo, junto às Pirâmides, sem falar nos postos de estacionamento de camelos, para uso dos turistas. Os animais, sem outros cuidados, vivem por ali e seus dejetos estão minando as bases dos monumentos milenares – algo que, certamente, os antigos não puderam prever. Teríamos mais, muito mais a enumerar, se incluirmos ainda a preservação da fauna e da flora do planeta.
Um povo sem Memória é um povo sem História. Uma Doutrina sem Memória é uma Doutrina desprovida de Bens Culturais e Morais sólidos.
Preservar hoje, é sinônimo de Sobreviver – sobreviver à sanha do desequilíbrio existencial que toma conta de alguns poucos.
Não foi ao acaso que os Espíritos Benfeitores da Humanidade que compuseram a Equipe do Espírito da Verdade surgiram das brumas do tempo, fazendo-nos lembrar que os maiores bens adquiridos pela Humanidade estarão sempre sustentados e estruturados na rocha sólida que sustenta o edifício da Evolução. Passado, Presente, Futuro. Uma só Existência – a do Espírito Eterno e suas conquistas ascensionais.