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Anália Franco – a missão do amor

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Neide A. Fonseca

Afirma o Espírito André Luiz, que “o trabalho da mulher é sempre a missão do amor, estendendo-se ao infinito” (Conduta Espírita). A vida de Anália Franco espelha bem o significado desse pensamento. Com o título de a “Grande dama da educação brasileira”, criado para homenageá-la, sua vida foi um exemplo de amor ao próximo. Anália, nascida no Estado do Rio de Janeiro, na cidade de Rezende, em meados do século dezenove (01.02.1856), ousou ir além do papel que a sociedade da época reservava às mulheres.
No século XIX tem iníicio a segunda revolução industrial, a criação do capitalismo monopolista, os avanços tecnológicos. O Brasil, que à época era basicamente rural, dava seus primeiros passos para ingressar na modernidade. Mas tanto aqui como no resto do mundo a sociedade se mantinha conservadora em relação à mulher e qualquer dela que ousasse fugir aos padrões estabelecidos, do cotidiano dos afazeres domésticos seria alvo do escárnio social. Aos 16 anos, Anália tornou-se professora primária, trabalhando como assistente de sua mãe. Sua vocação literária eclodiu logo após a Lei do Ventre Livre, ocorrida em setembro de 1871, tornando-se uma notável literata, jornalista e poetisa. Em torno de 1875, Anália morava em São Paulo e diplomou-se normalista.
Muito a incomodava as centenas de crianças abruptamente desprotegidas, sem cuidados, a perambular pelas ruas em consequência da Lei do Ventre Livre. É o período de uma grande ferida exposta na sociedade que até hoje tem seus reflexos – surge a “Roda dos Expostos” da Santa Casa onde filhos de escravas eram abandonados. Anália faz um emocionado apelo por escrito às mulheres fazendeiras, que, na sua maioria, não se sensibilizam com a situação. Em vista disso, Anália muda-se da capital paulista para o interior de São Paulo com o objetivo de amparar essas crianças carentes. Aluga uma casa e instala a sua primeira “Casa Maternal”, recebendo todas as crianças que batiam à porta ou para lá eram levadas.
Entretanto, a fazendeira, proprietária do imóvel por ela alugado, mobiliza os políticos da época, contra o que as elites chamavam “abrigo de negrinhos”, conseguindo o afastamento da professora Anália. Porém esta não se deu por vencida. Mudou-se para a cidade e alugou uma velha casa pagando do seu bolso o aluguel, metade do seu ordenado, além disso, para conseguir alimentar as crianças, as quais chamava de “meus alunos sem mães”, foi para as ruas junto com eles, pedir esmola.
Anália era a expressão do amor em ação, porém, como fugia aos padrões femininos da época, era considerada escandalosa, muitos a achavam perigosa decidindo por expulsá-la da cidade. O único apoio vinha do grupo de abolicionistas e republicanos.Após fundar algumas escolas maternais no interior de São Paulo, mudou-se para a capital unindo-se a eles.
Em abril de 1898, Anália lançou uma revista intitulada “Álbum das meninas”, que discutia “a participação das mulheres na sociedade e seu direito à educação[1]”, um dos artigos principais era “Às mães e educadoras”.
O período de pós-abolição escravagista em 1888, o fim do Brasil Império, e a Proclamação da República em 1889 são momentos históricos e nesse período Anália Franco já está com dois grandes colégios em funcionamento totalmente gratuitos para meninos e meninas.
Em 17.11.1901, com a permissão da Lei, Anália fundou o Instituto Educacional “Associação Feminina Beneficente e Instrutiva” – AFBI, com sede no Largo do Arouche, em São Paulo, junto com mais vinte outras mulheres.
Anália dirigiu a AFBI até o ano de seu falecimento (1919) e nesse período criou cerca de uma centena de entidades em 24 cidades do interior e na capital paulista (escolas maternais, asilos, creches, liceus, escolas noturnas, albergues, uma banda musical feminina e um grupo de teatro. Oficinas profissionalizantes não só para crianças abandonadas e órfãs, mas também para mulheres desamparadas e mães solteiras.
Com o objetivo de subsidiar as educadoras a encontrarem meios de desenvolver as faculdades afetivas e morais das crianças e ao mesmo tempo instruí-las, Anália Franco publicou numerosos folhetos e opúsculos referentes aos cursos ministrados em suas escolas e tratados especiais sobre a infância. Em 1º. de dezembro de 1903, passou a publicar “A Voz Maternal”, revista mensal com tiragem de 6.000 exemplares, impressos em oficinas próprias.
A Associação Feminina mantinha um Bazar para a venda dos artefatos das suas oficinas, e, além disso, Anália Franco mantinha Bibliotecas anexas às escolas, Escolas Profissionais, Arte Tipográfica, Curso de Escrituração Mercantil, Prática de Enfermagem e Arte Dentária, Línguas (francês, italiano, inglês e alemão), Música, Desenho, Pintura, Pedagogia, Costura, Bordados, Flores artificiais e Chapéus, num total de 37 instituições. Depois de se casar com Francisco Antônio Bastos, em 1906, Anália tornou-se espírita, esse fato foi relevante, pois mostrou a ela que estava no caminho reto com sua postura caridosa, fraterna diante dos mais necessitados. Espirita na vida diária, Anália Franco foi e ainda hoje é um exemplo de Espírito que reencarna com uma missão e a cumpre sem se deixar abalar pelas pedras do caminho.
É sua a frase: “A verdadeira caridade não é acolher o desprotegido, mas promover-lhe a capacidade de se libertar”.
Autora de três romances: “A Égide Materna”, “A Filha do Artista”, e “A Filha Adotiva”, escreveu também numerosas peças teatrais, diálogos, destacando-se “Hino a Deus”, “Hino a Ana Nery”, “Minha Terra”, “Hino a Jesus” entre outros.
Em janeiro de 1919, aos 66 anos de idade, vitima da gripe espanhola, essa mulher-amor retorna a Pátria Espiritual, deixando um rastro de luz por onde passou.

Bibliografia:
LUIZ, André e VIEIRA, Waldo – Conduta Espírita, Editora da FEB – Federação Espírita Brasileira;
MONTEIRO, Eduardo Carvalho – Anália Franco, A Grande Dama da Educação Brasileira – Editora Eldorado Espírita, 1˚edição, São Paulo, abril de 1992.
GODOY, Paulo Alves – Grandes Vultos do Espiritismo – Edições FEESP.
LUCENA, Antônio. Personagens do Espiritismo (2ª ed.). São Paulo: Edições FEESP, 1990.
Site consultado em 10.08.2015: http://www.fcc.org.br/pesquisa/educacaoInfancia/EducacaoInfancia.abrirTopico.mtw?idTopico=1
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[1] http://www.fcc.org.br/pesquisa/educacaoInfancia/EducacaoInfancia.abrirTopico.mtw?idTopico=1

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