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Camille Flammarion

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 “Sejam quais forem os progressos das descobertas futuras, nossa doutrina adquirida se resume de hoje em diante nesses termos:
O corpo passa. A alma vive no infinito e na eternidade”.
Camille Flammarion [1]

Nicolas Camille Flammarion nasceu em 26 de fevereiro de 1842, em Montigny-le-Roi – Haute – Marne – França e desencarnou em 3 de junho de 1925 em Juvisy-sur-Orge – Essone, aos 83 anos de idade. De intelecto privilegiado desde a infância, com tenra idade já dominava o básico da gramática e aritmética, destacando-se como o melhor aluno na escola em que frequentava.

Como era natural naquela época, encaminharam Flammarion aos estudos eclesiásticos, oportunidade em que tomou contanto com o latim, o novo testamento e a oratória. Aproximou-se da Astronomia, através das influências do Padre Mirbel que lhe despertou para as maravilhas da ciência. Flammarion teve uma adolescência difícil, com penúria financeira, decorrente da epidemia de cólera, que levou sua família a migrar do interior para Paris.

Na capital, passou por trabalhos braçais, porém, nunca perdeu o entusiasmo pelos estudos, tanto que seu empenho despertou em um médico parisiense a possibilidade de indicá-lo para ingressar no Observatório de Paris em 1852, quando contava com apenas dezesseis anos de idade.

No Observatório, suas ideias avançadas não agradaram a cúpula, situação que lhe obrigou a romper com esta comunidade. Esse rompimento possibilitou à Camille Flammarion tornar-se mais livre para estudar e aprofundar-se no aspecto transcendental da astronomia. No mesmo ano de 1862, publicou sua obra “A Pluralidade dos Mundos Habitados”, cujo entendimento discrepava da ortodoxia cega da comunidade científica, vejamos o seguinte excerto desta obra:

“Mas se a doutrina da Pluralidade dos Mundos, com uma mão, mostrou a verdade de nossa presunção ridícula e nos abriu os olhos nas trevas, é para elevar-nos magnificamente com a outra, libertando nossas amas dos liames grosseiros que as prendiam à Terra. E eis que o brilho das regiões imortais as ilumina, essas almas até tão cheias de inquietudes; eis que elas vão tomar seu impulso rumo às esferas amadas. Elas reconheceram sua de agora na Ordem geral; mas entreviram a grandeza de seu destino. Elas se viram bem baixo; mas ao mesmo tempo, sentindo suas almas fremirem, elas contemplaram com amor as regiões superiores; pois, ao infinito de suas aspirações, a Pluralidade dos Mundos abriu o infinito do Universo.” [2]

Flammarion casou-se em duas oportunidades, sendo que sua primeira núpcia ocorreu em 1874, com Sylvie Petiaux, e, uma vez viúvo, desposou Gabrielle Flammarion em 1919. Camille Flammarion em 1887 fundou a Sociedade Astronômica da França cujas atividades promoveram a popularização da astronomia, vindo inclusive a ser premiado com o Prêmio Montyon por tal iniciativa.

Em 1883, Camille Flammarion fundou o Observatório de Juvisy-sur-Orge, local de onde passou o final de sua vida, envolto nos estudos, e escritos, bem como sempre incentivado os observadores amadores. Flammarion com sua verve entusiasta popularizou a Astronomia. Seus escritos foram traduzidos para quase todas as línguas, bem como os seus estudos de caráter espírita de cunho científico e filosófico, agregaram o trabalho de Allan Kardec embasando-o de forma profunda em vários assuntos.

Seu contato inicial com o Espiritismo se deu pelo contato com o Livro dos Espíritos, notadamente, na parte que aborda a pluralidade dos mundos habitados, ideias estas que foram ao encontro às ideias do próprio Flammarion, pois na época estava trabalhando no referido livro de igual título.

Com a surpresa vinda das informações trazidas pelos Espíritos acerca da existência de outros mundos, estudou com afinco a obra inaugural da codificação, buscando conhecer pessoalmente o idealizador Allan Kardec, que logo lhe convidou para frequentar e posteriormente a integrar o grupo de médiuns da Sociedade Parisiense de Estudos Espiritas. Pela mediunidade de Flammarion, o Espírito Galileu Galilei, nos legou diversas  informações reveladoras. As comunicações ocorreram nas sessões que aconteciam na Sociedade Espírita de Paris, no período de 1862 e 1863.

Todo este manancial de informações foram incluídos na integra, na Obra A Gênese – Capítulo VI – Uranografia Geral.

No sepultamento de Allan Kardec, Flammarion discursou longamente sobre todo o trabalho desenvolvido e que deu feição quase completa ao arcabouço integral da doutrina espírita, demonstrando que tal Revelação, se comprova pela ciência, e que deveria ser encarada profundamente e sem preconceitos pela elite científica até que se ultime toda a verdade.

Emocionadamente confessa a sua crença na Doutrina e na ciência.  Trazemos a colação o seguinte excerto [3]:

“Agora retornastes a esse mundo de onde viemos, e recolhes os frutos dos teus estudos terrestres.

O teu envoltório dorme aos nossos pés, teu cérebro está aniquilado, os teus olhos estão fechados para não mais se abrirem, a tua palavra não se fará mais ouvir…

 Sabemos que todos nós chegaremos a esse mesmo último sonho, à mesma inércia, ao mesmo pó.

Mas não é nesse envoltório que colocamos a nossa glória e a nossa esperança. O corpo cai, a alma permanece e retorna ao espaço.

Encontrar-nos-emos, nesse mundo melhor, e no céu imenso onde se exercerão as nossas faculdades, as mais poderosas, continuaremos os estudos que não tinham sobre a Terra senão um teatro muito estreito para contê-los.

Gostamos mais de saber esta verdade do que crer que tudo jaz inteiramente nesse cadáver, e que a tua alma haja sido destruída pela cessação do funcionamento de um órgão.

 A imortalidade é a luz da vida, como esse brilhante Sol é a luz da Natureza.

 Até breve meu caro Allan Kardec, até breve”.

A contribuição de Flammarion é incontestável na Codificação, vejamos como seus escritos corroboraram o entendimento de Allan Kardec, conforme depreendemos dos seguintes excertos extraídos da Gênese, a saber:

“A mitologia hindu ensinava que, ao entardecer, o astro do dia se despojava de sua luz e atravessava o céu durante a noite com uma face obscura. A mitologia grega figurava puxado por quatro cavalos o carro de Apolo. Anaximandro, de Mileto, sustentava ao que refere Plutarco, que o sol era um carro cheio de fogo muito vivo que se escapava por uma abertura circular. Epícuro, segundo uns, teria emitido a opinião de que o Sol se acendia pela manha e se apagava à noite nas águas do oceano; segundo outros, ele considerava esse astro uma pedrapomes aquecida até à incandescência. Anaxágoras o tomava por um ferro esbraseado, do tamanho do Peloponeso. Coisa singular! Os antigos eram tão invencivelmente induzidos a considerar real a grandeza aparente desse astro, que perseguiram o filósofo temerário por haver atribuído aquele volume ao facho do dia, fazendo-se necessária toda a autoridade de Péricles para salvá-lo de uma condenação à morte e para que essa pena fosse comutada na de exílio.” (Flammarion, Estudos e leituras sobre a Astronomia , pág. 6.)”. [4]

Muitos estudos elaborados por Flammarion foram publicados na Revista Espírita em diversos anos, de forma que neste singelo trabalho, não poderíamos citar todos os textos que até hoje enriquecem a Doutrina Espirita quando consultados, pois de forma particular, Camille Flammarion metodicamente e pautando-se no empirismo, trouxe lume às várias questões relativas aos primados fundamentais da doutrina espírita, quais sejam, a pluralidade dos mundos habitados, a imortalidade da alma, a comunicação entre os espíritos e as faculdades extras-sensoriais dos homens, de modos que rendemos homenagem a mais este grande Apóstolo do Espiritismo.

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Cumpre-nos finalizar este trabalho trazendo maiores informações sobre a bibliografia deste grande pensador, bem como algumas sinopses para melhor ilustrar este dileto rol de obras, a saber.

La pluralité des mondes habités (A Pluralidade dos Mundos Habitados), 1862. Trata-se de um livro que interessa a astrônomos, astrólogos, ufólogos, filósofos, esotéricos, espíritas, espiritualistas – enfim, todos os que buscam a compreensão do Universo em que vivemos, e para os quais esta obra clássica representa uma fonte inesgotável de sabedoria e esclarecimento.

Les Mondes imaginaires et les mondes réels (Os Mundos Imaginários e os Mundos Reais), 1864.

Les mondes célestes (Os Mundos Celestes), 1865.

Études et lectures sur l’astronomie (Estudos e Palestras sobre a Astronomia), em 9 volumes, 1866-1880.

Dieu dans la nature (Deus na Natureza), 1866. Apresenta estudo sobre a existência de Deus, objetivando provar, através do método científico aplicado à natureza, a existência de “uma causa inteligente, agindo universal e eternamente”.

Contemplations scientifiques (Contemplações Cientíicas), 1870-1887, 2 séries.

Voyages aériens (Viagens Aéreas), 1870.

L’Atmosphère (A Atmosfera), 1871.

Récits de l’infini (Narrações do Infinito), 1872. Através de cinco narrativas, em forma de diálogo, apresenta assuntos como: alma das plantas; diversidade das existências planetárias; formas vivas desconhecidas da Terra; transmissão sucessiva da luz no espaço; planetas de vida superior e vidas anteriores. Afirma a existência da vida em outros mundos e atesta o equilíbrio e a afinidade existente em toda a criação divina.

Histoire du ciel (História do Céu), 1872.

Récits de l’infini, Lumen, histoire d’une comète (Narrações do Infinito, Lúmen, História de um Cometa), 1872.

Dans l’infini (No Infinito), 1872.

Vie de Copernic (Vida de Copérnico), 1873.

Les Terres du ciel (As Terras do Céu), 1877.

Atlas céleste (Atlas Celeste), 1877.

Cartes de la Lune et de la planète Mars (Mapas da Lua e do Planeta Marte), 1878.

Catalogue des étoiles doubles en mouvement (Catálogo das Estrelas Duplas em Movimento), 1878.

Astronomie sidérale (Astronomia Sideral), 1879.

Astronomie populaire (Astronomia Popular), 1880. Recebeu por esta obra o prêmio Montyon, da Academia Francesa.

Les étoiles et les curiosités du ciel (As Estrelas e as Curiosidades do Céu), 1881.

Le Monde avant la création de l’homme (O Mundo Antes da Criação do Homem), 1886.

Dans le ciel et sur la Terre (No Céu e Sobre a Terra), 1886.

Les Comètes, les étoiles et les planètes (Os Cometas, as Estrelas e os Planetas), 1886.

Uranie (Urânia), 1889. Relata o encontro onírico entre um jovem e Urânia, a musa da Astronomia, tecendo considerações sobre astronomia e espiritualismo.

Centralisation et discussion de toutes les observations faites sur Mars (Centralização e Discussão de Todas as Observações Feitas sobre Marte), em 2 volumes, 1892-1902.

La fin du monde (O Fim do Mundo), 1894. Cataloga teorias sobre o fim do mundo, objetivando estudar as transformações da Terra e sua evolução no espaço infinito.

Stella (Estela), 1897. Romance que trata da sintonia perfeita entre Rafael e Estela, dois seres que denotam elevada evolução espiritual. Convida à fé raciocinada amparada pela luz da Ciência, concluindo que quanto mais elevada é a alma mais céu nela se contém e mais é capaz de amar.

Les Imperfections du calendrier (As Imperfeições do Calendário), 1901.

Les Phénomènes de la foudre (Os Fenômenos do Raio), 1905.

L’Atmosphère et les grands phénomènes de la nature (A Atmosfera e os Grandes Fenômenos da Natureza), 1905.

Les forces naturelles inconnues (As forças naturais desconhecidas) Paris: Flammarion, 1907. Seu propósito, ao escrever a obra Forças Naturais Desconhecidas, foi um só: demonstrar que tais fatos – mesas girantes e todo o repertório de fenômenos físicos que abundavam na época – eram reais, qualquer que fosse a origem por trás deles.

L’Inconnu et les problèmes psychiques (O Desconhecido e os Fenômenos Psíquicos), 1917. Objetiva alcançar a verdade, através de ensaio de análise científica dos fatos considerados sobrenaturais ou imaginários

La Mort et son mystère (A Morte e o Seu Mistério ), 1917. Trata-se de três Volumes que abordam profundamente tudo que se relaciona com o título principal das obras, desenvolvendo os mistérios antes da morte (volume I); os mistérios durante a morte (volume II) e, os mistérios após a morte (volume III). O centeudo versa sobre comprovações por aparições, premonições, telepatia e etc.

Les Maisons Hantées (As Casas Mal Assombradas), 1923. Descrições de situações pitorescas sobre as chamadas casam mal assombradas. Porém, esclarecendo que tudo que diz respeito a estas ocorrências reputam-se a espíritos desencarnados.

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Bibliografia para a Pesquisa

  1. CARNEIRO, Victor Ribas. A B C do Espiritismo. Editora Federação Espírita do Paraná, 1996
  2. Site: www.autoresespiritasclássicos.com
  3. Site: www.camilleflammarion.org.br/biografia.htm
  4. KARDEC, Allan. A Gênese
  5. KARDEC, Allan. Obras Póstumas
  6. FLAMMARION. Camille, A morte e o seu mistério. Editora FEB – 1990

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Notas

[1] FLAMMARION. Camille, A morte e o seu mistério. Editora FEB – 1990

[2] FLAMMARION. Camille, A Pluralidade dos Mundos Habitados.

[3] KARDEC. Allan, Obras Póstumas.

[4] KARDEC. Allan, Gênese – Capítulo V, item 2 – Antigos e Modernos sistema de mundos.

[5] Relação de Obras extraída do site: http://fr.wikipedia.org/wiki/Camille_Flammarion e Resumo de algumas obras extraído sinteticamente do site: http://www.autoresespiritasclassicos.com

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Imagens

link da foto original
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Pesquisa: Cristiane Aparecida R.Garcia
CEFE- Centro de Estudos Filosóficos Espíritas  

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