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VIOLÊNCIA E CULTURA DE PAZ (PROGRAMA FILOSOFANDO)

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Nas semanas anteriores, comentamos com você que a violência humana foi objeto de estudos pela Filosofia desde a remota antiguidade.

No campus da Universidade de São Paulo, há um Núcleo de Estudos sobre Violência, ligado à Faculdade de Sociologia, onde a violência é estudada como fenômeno antropológico e social.

A Psicologia considera hoje a violência como um distúrbio mental grave.

A Filosofia Espírita tem muito a dizer sobre o tema que aflige não somente os brasileiros, mas é tema RECORRENTE de pesquisas, estudos e reflexões desde a antiguidade e no mundo inteiro.

Nós, estudiosos espíritas, sabemos que a violência está ancorada no passado reencarnatório de todos nós .

Dissemos no primeiro programa, que a violência, como fruto da inveja e da ambição teve seu papel relevante na Bíblia, a partir da metáfora de Caim e Abel.

A Bíblia conversa conosco através de metáforas e alegorias, como esta de Caim e Abel, para demonstrar que os sentimentos humanos podem sofrer alterações pois dependem do nível de desenvolvimento do senso moral.

Senso moral este que se desenvolve lentamente através do tempo, em contínuos aprendizados através das reencarnações sucessivas.

E o que os Espíritos Superiores teriam a nos dizer disso tudo? Afinal, porque o ser humano, que sempre recebeu propostas morais de alto nível por parte dos Mensageiros do Cristo, após os ensinamentos de Jesus de Nazaré, apesar das religiões que preconizam a paz e a solidariedade, após o surgimento do Espiritismo predominantemente no Brasil, ainda permanece estagnado na quase total ausência de empatia pelo seu semelhante?

Se todos aprendemos a conviver com a banalização da violência, e até os mecanismos de agressividade espontânea que compõe o cotidiano de todos nós e que muitas vezes passam desapercebidos porque nos acostumamos com eles, precisamos tomar a iniciativa de transformar essas atitudes em ações efetivas de cultura de Paz.

Gandhi disse certa vez que “não existe caminho para a paz, pois a Paz é o caminho.”

Gandhi não se prende em explicações de como ou quando poderíamos efetivar a paz, colocá-la em ação, pois tudo quanto possamos fazer deve ser feito – e pensado – na paz.

Então não se trata de planejar a paz, mas vivê-la interiormente e exteriormente.

(Impresso Foruns 2003) “Sendo a Paz um valor inclusivo, e a Cultura o modo coletivo de sentir, pensar e agir, a Cultura de Paz requer novas formas de convivência e mecanismos mais justos de distribuição da riqueza e do saber.

A Cultura de Paz (…) sustenta os processos de mudança de consciência, que por sua vez exigem o empoderamento de cada indivíduo para a construção de uma cidadania planetária baseada na responsabilidade universal.”

Por diversas vezes eu tenho comentado com o nosso público, que a Filosofia Espírita, quando bem assimilada, nos confere empoderamento sobre as nossas vidas.

Tornamo-nos conscientes e, portanto, responsáveis.

O conhecimento espírita e o aprimoramento intelectual devem ser desenvolvidos não por mero diletantismo pessoal mas sim como perspectiva de aquisição de uma estatura intelecto-moral que nos garanta a concretização do plano de regeneração em nossas consciências.

Sem isso, estaremos perdendo o valioso tempo que Deus nos concedeu neste planeta.

(Texto compaixão, simpatia e empatia): (eu) Os misericordiosos que Jesus proclama bem-aventurados, não são pessoas apenas eticamente boas, fazedoras do bem, mas essencialmente boas.

Ou seja, não são aparentemente boas, o que levaria à dissimulação, ao verniz de sociabilidade. Esse verniz social derrete quando os desafios da vida aparecem.

Como vivemos ainda de aparências, julgamos ou confundimos simpatia com expontaneidade, sinceridade, legitimidade.

As leis divinas presentes na consciência humana, enriquecem o ser humano que mantém permanentemente uma atitude doadora.

Este foi o caso de Mohandas Karamchand Gandhi, o Mahatma, que viveu entre 1869 e 1948, quando foi morto em um atentado na Índia.

No ano de 2018, lembramos os 70 anos de sua morte.

Gandhi representa o modelo de um político preocupado com o bem estar da população menos favorecida, sem demagogias e ideologias.

Gandhi, formado em Direito em Londres, era profundamente ético, tendo como base de leituras e reflexões o Baghavad-Gita e o Sermão da Montanha de Jesus.

Gandhi trabalhou intensamente a libertação da Índia do colonialismo britânico, através da ahimsa, ou não-violência, atitudes de protesto diante da violência da opressão, e finalmente conseguindo seu intento.

Porém, outro problema político surge e a Índia acaba dividida entre os muçulmanos que também lá habitavam, e os indianos. Dividida ao meio, surge o Estado do Paquistão, depois de muitas lutas e mortes, e contra o pensamento e a vontade de Gandhi que queria uma Índia unida.

A biografia de Gandhi é modelo de vivência e conduta por um ideal, ideal de libertação através de uma conduta de paz e não-violência.

Sua autobiografia “Minha Vida e minhas experiências com a Verdade” é um marco histórico de um personagem que viveu pela Paz, e para a Paz.

(Impresso Gandhi e o Despertar para a não-violência) A dra. Savita Singh, diretora do Mahatma Gandhi Memorial na Índia, trabalha com crianças e jovens na conscientização quanto à mensagem de Gandhi. Trabalha em parceria com a UNESCO, e outras relevantes organizações internacionais.

A dra. Savita Singh esteve em S.Paulo, e eu registrei algumas de suas ponderações : “HOJE O NOME Mahatma Gandhi transcende as fronteiras raciais, religiosas, nacionais e partidárias. Suas palavras emergem como uma voz profética para o século XXI.

“Quais as imagens que temos dele? Uma figura franzina, emoldurando um caráter sólido e consequente; em total empatia com os pobres e os necessitados, um indomável defensor da justiça social e dos direitos humanos; um visionário que submeteu suas próprias ideias ao escrutínio da prática e da vida real.

“Gandhi é lembrado de muitas maneiras,” diz ela, ”porém todas elas evidenciam sua adesão apaixonada à verdade e sua habilidade em fazer da não-violência um instrumento eficaz de mobilização e mudança social.

”De fato, a abolição do aparato escravizante de segregação racial na África do Sul em 1994 e a libertação da Índia em 1947 são resultado direto da luta não violenta que M.Gandhi iniciara décadas antes contra a discriminação, a intolerância e a injustiça.

“Ele nos convida hoje, a adentrar o abrigo da genuína e duradoura convivência através da adesão à verdade (satyagraha) e com o compromisso com a prática da não-violência ativa (ahimsa) – instrumentos que é preciso estudar, aprofundar e ampliar a fim de criar processos e procedimentos cada vez mais eficientes de construção de uma nova ordem mundial baseada na ética, na justiça e na compaixão. “

A dra. Savita Singh diz que canalizar o poder coletivo mediante a não-violência, é um desafio que cria um clima de diálogo e gera uma opinião pública favorável às iniciativas de paz. Tal cometimento já foi feito por outros líderes e ativistas, como Martin Luther King.

Gandhi e a não-violência também inspiraram o Prêmio Nobel da Paz de 1986, Elie Wiesel, húngaro judeu nascido em 1928 e falecido em 2016. Capturado com sua família pelos nazistas, foi enviado ainda criança para os campos de concentração de Auschwitz-Birkenau e depois a Buchenwald.

Elie Wiesel dedicou sua vida a defender a memória do Holocausto depois de sobreviver aos campos de extermínio nazistas. Seu livro mais conhecido, Noite, publicado em 1955, conta suas memórias e experiências de jovem adolescente judeu ortodoxo durante o holocausto e seu aprisionamento nos campos de concentração mencionados. Seus escritos cobrem uma vasta área da literatura, englobando poemas e teologia.

São suas palavras: “O sofrimento não confere privilégio a ninguém; tudo depende do que fazemos com ele. Se tomo esse sofrimento e o abro para ajudar outros a não sofrer, ou pelo menos a sofrer menos, se o ofereço para ajudar o outro, a se abrir também, então adquiro certos direitos morais.

“Se transformo o sofrimento em justificação da violência, então perco esse direito.” (artigo Deveríamos estar juntos…)

Elie Wiesel, outro grande exemplo de superação do ódio, da angústia, do ressentimento, dos traumas adquiridos nos campos de concentração nazistas, legou a todos o exemplo de Paz diante da adversidade.

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