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VIOLÊNCIA E CULTURA DE PAZ– THOMAS HOBBES E MAQUIAVEL

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Nas semanas anteriores, comentamos com você que a violência humana tem sido objeto de estudos pela Filosofia contemporânea, mais precisamente na área dos existencialismos.

A Filosofia Espírita tem muito a dizer sobre o tema que aflige não somente os brasileiros, mas é tema RECORRENTE de pesquisas, estudos e reflexões desde a antiguidade e no mundo inteiro.

Em maio de 2006, a cidade de São Paulo foi atingida por uma onda de violência pública que causou prejuízos materiais de grande monta, além da perda de vidas de militares e civis.

Rapidamente, o medo se espalhou e a cidade fechou as portas dos seus estabelecimentos comerciais, e órgãos estaduais e municipais.

Semelhante a esse evento, único numa megalópole como São Paulo, a população do Rio de Janeiro tem passado cotidianamente por momentos de aflição e de grande sofrimento devido as perdas de vidas humanas dela, população, bem como de centenas de policiais.

Sob intervenção militar, o Estado do Rio de Janeiro aguardou solução definitiva para o seu trágico problema.

Vamos ver se a Filosofia explica essa relação entre Estado e população?

Thomas Hobbes foi um filósofo inglês do século XVII. É conhecido por seu livro denominado “Leviatã”, por defender o absolutismo monárquico, por achar que o homem é mau por natureza e pelas expressões “guerra de todos contra todos” e “o homem é o lobo do homem”.

Viveu no auge das guerras civis que assolaram a Inglaterra de seu tempo, podendo sua filosofia política ser considerada um reflexo e uma reação às condições em que viveu.

A mais famosa obra de sua autoria, O Leviatã, título retirado do livro bíblico de Jó, nos capítulos 40 e 41, foi usado como metáfora do poder do Estado, e demostra de que forma os homens se relacionam quando não há um estado político a constranger as ações de todos, ou seja, numa condição de pura natureza.

Faço uma observação aqui que o cinema – que sempre imortaliza os momentos graves pelas quais a humanidade atravessa – realizou um filme,”Ensaio sobre a Cegueira” que reproduz muito bem essa condição.

No Leviatã, Hobbes imagina um “estado de natureza” que é a situação anterior à formação da sociedade, em que cada pessoa persegue os próprios interesses; um estado em que cada um está em guerra com os demais.

Como todos estariam em melhor situação se cooperassem, deve ser racional para cada um de nós restringir nossa liberdade e cumprir leis, contanto que possamos crer que todos farão o mesmo. Para Hobbes, isso pode ser alcançado por um contrato social que entregue o poder a um soberano capaz de impor a obediência universal Às leis.

Antes de Hobbes, surgiu no cenário político italiano, a figura de Nicola Maquiavel, que viveu entre 1469 a 1527.

‘Maquiavel notabilizou-se na contemporaneidade, entre a população em geral, como uma figura quase diabólica, gerando a expressão “maquiavélico” para designar as ações temerárias por parte daqueles que representam o mal.

‘Diferentemente desse conceito popular, o maquiavelismo é um sistema de relações políticas entre o representante que governa e o povo sob a sua tutela, e essas relações estão registradas em seu famoso livro O Príncipe, dedicado a Lourenço, o Magnífico, governante de Florença e, querem alguns, também a Cesar Bórgia, filho do Papa Alexandre VI, de Roma.

‘Segundo Maquiavel, uma ação justifica-se ou não dependendo dos fins que pretende alcançar.

‘Em O Príncipe, Maquiavel tentou injetar uma dose de realismo na filosofia política. Apresentado como um manual para príncipes no exercício de uma autoridade política, e escrito de uma maneira deliberadamente provocativa, o livro discute como conquistar e conservar o poder fundamentando suas assertivas em evidências históricas.

A linguagem de Maquiavel conduz ao exercício do absolutismo em detrimento de um possível bem estar por parte da população governada pelo príncipe, que não está sujeito a regras morais.

Já Thomas Hobbes, em sua visão materialista da natureza humana, brota a assertiva de que os seres humanos estão fadados a entrar em conflito, num mundo de recursos limitados. Portanto, o severo cumprimento às leis é fundamental nesse caso.

(revista Filosofia) ‘Qual é, então, o papel do Estado?

Diz Hobbes em O Leviatã: “a única maneira de instituir um poder comum, capaz de defender os homens das invasões de estrangeiros e dos danos uns aos outros, garantindo-lhes assim uma segurança suficiente para que, mediante o seu próprio labor e graças aos frutos da terra, possam alimentar-se e viver satisfeitos, é conferir toda a sua força e poder a um homem, ou a uma assembleia de homens, que possa reduzir todas as suas vontades, por pluralidade de votos, a uma só vontade.”

Diz Hobbes que, organizar-se num Estado, apto a defender os homens das causas de sofrimento, é transformar a multiplicidade de pessoas em uma pessoa só, um ser artificial tão forte a ponto de garantir a paz e tranquilidade de todos.

(revista) A esse respeito, é bem ilustrativa a conhecida figura da capa da primeira edição do Leviatã, que mostra um enorme homem, que toma conta da cidade, tendo numa das mãos uma espada, e na outra um cetro episcopal.’

O quadro sombrio da condição de guerra de todos conta todos descrito por Hobbes, ainda nos é bastante familiar.

O século 20 demonstrou a quase falência das relações entre homens e Estado e entre estes últimos.

Duas grandes guerras mundiais solaparam qualquer esperança de paz, enterrando o diálogo diplomático juntamente com milhões de vítimas de todo o planeta nos palcos europeus e asiáticos e que culminaram com as explosões de duas bombas atômicas em Hiroshima e Nagasaki.

Após o segundo conflito, a guerra fria surgida com a ausência de relações eminentemente diplomáticas entre Estados Unidos e União Soviética gestaram e fizeram eclodir a guerra da Coréia que culminou na divisão do país, a guerra do Vietnã, uma das mais cruentas do Sudeste Asiático que em seus 6 anos de duração, exterminou as vidas de milhares de jovens norte-americanos e grande parte da população civil vietnamita. Não houve vencedores.

Os Estados Unidos amargam até hoje os resultados infelizes de suas iniciativas, com os milhares de veteranos de guerra vitimados por lesões físicas irreversíveis, além de choques pós-traumáticos, viciações em drogas, dentre outros males.

Aliás, o mesmo acontece com os veteranos das guerras no Iraque e Afeganistão. Recente pesquisa diz que quase 30% dos moradores de rua naquele país é constituída por esses veteranos.

Bem, mas você pode dizer, há alguma saída para tudo isto?

Sem dúvida, que não podemos explicar tudo isso apenas pela Lei de Causa e Efeito referenciando vidas passadas desses personagens – isso seria acreditar na Lei de Talião mosaica, no olho por olho, no dente por dente.

Circunstâncias movem as civilizações. A evolução acontece também pela dor. Não seria necessário que assim fosse no atual quadro existencial, já que Jesus nos trouxe o seu infinito amor em seus ensinamentos e exemplos.

Nós vivemos pelo nosso livre-arbítrio. Todos conhecemos o efeito da Lei de Amor, independente de religião ou doutrina.

Sem dúvida, que no caso de violência explícita, de todos contra todos, há necessidade de um corpo policial efetivo e bem treinado, mas também de um Estado que faça valer as leis do país em perfeita consonância com a justiça legal, e juntamente com esta, a justiça moral, a ética, que faz cumprir, repito a lei e quando necessário, atualizá-la ao mesmo tempo que a humaniza.

Em Obras Póstumas, Allan Kardec deixa claro que as Expiações individuais e Coletivas são o produto sim de faltas pregressas, mas, nesta vida, nesta existência, se repara, ou seja, há a REPARAÇÃO da falta cometida, jamais a PUNIÇÃO. Esta última cumpre às leis humanas que são punitivas e bem pouco educativas.

As Leis Divinas são educativas.

Precisamos fazer uma observação aqui. Ninguém tem acesso às causas efetivas que geram grandes tragédias coletivas no presente. Afirmar que as vítimas do tsunami da Indochina em 2004 por exemplo, pagaram por suas faltas por estarem envolvidas no comércio de vidas humanas, é tão cruel quanto seria este crime.

Ou então que os atuais exilados da Síria são os mesmos que exilaram civilizações antigas.

Primeiramente, a ninguém é dado conhecer em detalhes a vida individual ou as vidas e faltas coletivas de quem quer que seja. Médiuns – e eu diria – até movidos pela morbidez da curiosidade irresponsável própria ou de terceiros, tem afirmado verdadeiros absurdos com relação a esse assunto.

Jesus nos ensina a Misericórdia Divina e é assim que o verdadeiro espírita deve se comportar.

11 de setembro, tsunami no Japão, terremotos na Itália…

Com relação a Hobbes e Maquiavel, fizeram a leitura de seu tempo, muito embora muitos políticos ainda se conduzam por seus pensamentos, inclusive no Brasil.

(Este texto mereceu apresentação no programa FILOSOFANDO, na TV Mundo Maior. A graação poderá ser vista pelo canal do U Tube da TV, programa FILOSOFANDO)

Sonia Theodoro da Silva – filósofa e espírita.

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